Impactos da privatização da biotecnologia na vida da população de Primeiro e Terceiro Mundo

A privatização tende a encorajar o sigilo e o autointeresse. A pesquisa científica deixa de ser um empreendimento intelectual, perseguido dentro de uma comunidade inteiramente de acadêmicos. Em vez disso, a ciência torna-se uma mercadoria a ser comercializada pelo lucro máximo em um mercado aberto. Assim, por exemplo, o setor público de pesquisas da reprodução de vegetais passou de um profundo isolamento para a cooperação e intercâmbio científico. Costumava-se pensar que o cultivo das plantas não conhecia fronteiras, unindo os geneticistas pelo mundo inteiro. No entanto, com o advento do patenteamento de plantas e a consequente privatização, atualmente o setor privado de cultivo de plantas opera em um ambiente altamente competitivo e está inevitavelmente fadado a reunir-se às normas de negócios e aos planos empresariais. A linha atual no cultivo de plantas, favorecendo os produtos químicos, causa impacto inevitável nos valores sociais relacionados à ecologia.
A privatização causa a evasão de cérebros tanto nos países o Terceiro Mundo como nos do Primeiro Mundo, saindo os pesquisadores das instituições de pesquisas do setor público em direção aos laboratórios de pesquisa das empresas privadas. A privatização e o potencial que ela oferece para obter lucros substanciais, tendem a inibir o desenvolvimento de uma comunidade científica local nos países em desenvolvimento. Muitos cientistas tendem a orientar suas pesquisas cada vez mais para um círculo internacional do que em direção às prioridades nacionais ou locais. Eles se inclinam a procurar a valorização e o reconhecimento de seus trabalhos através do sistema internacional de avaliação pelos pares. Isso, às vezes, leva a uma colonização da vida intelectual.
A privatização também afeta o padrão de vida de várias formas. Grandes empresas transnacionais oferecem aos cientistas do Terceiro Mundo propostas financeiras tão lucrativas que se torna difícil resistir a elas. Isso, por sua vez, faz com que eles se acostumem a um estilo de vida muito mais elevado do que podem esperar caso regressem aos seus países nativos. A situação torna-se insustentável quando os técnicos especialistas, trabalhando para empresas transnacionais num país de Terceiro Mundo, levam consigo um estilo de vida exageradamente ostensivo para o país anfitrião. A criação de um grupo de elite de "brâmanes brancos" ou brâmanes mulatos" inteiramente subordinados à fatura empresarial tende a enfraquecer ainda mais a comunidade aberta dos acadêmicos, necessária para assegurar o livre acesso às inovações tecnológicas. A privatização tende também a encorajar, dentro da comunidade mais ampla, já que para que a privatização possa trazer lucros financeiros é necessário que novos objetos e novos produtos fundamentados na pesquisa privada sejam constantemente colocados no mercado.
Referência
DENBO, David; DIAS, Clarence e MOREHOUSE, Ward. Impactos sociais da privatização da biotecnologia nos países em desenvolvimento. In: Biotecnologia e Sociedade: caso brasileiro. Organização Claudio de Moura Castro e George Martine. Campinas: Editora da UNICAMP - São Paulo - Almed, 1985.
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